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Estudo inédito do Corpo de Bombeiros de MS sobre intoxicação por monóxido de carbono ganha destaque em Seminário Nacional sobre Prevenção e Combate a Incêndios Florestais.

- Silvana Nadir Garcia Machado MTE - 103/MS
- 30/06/2025
Por: Bombeiros
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A atuação do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso
do Sul (CBMMS) mais uma vez se destacou no cenário nacional por aliar inovação
científica à prática operacional. Os bombeiros militares da Diretoria de Saúde
(DS), da qual faz parte a Unidade de Resgate e Suporte Avançado (URSA), criada
para oferecer suporte médico a ocorrências de alta complexidade, vem se
consolidando como referência na formação e capacitação de profissionais da
área. O mais recente reconhecimento veio com a apresentação de uma pesquisa
inédita sobre intoxicação por monóxido de carbono (CO) em combatentes
florestais, durante o 1º Seminário Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios
Florestais (SNPCIF), promovido pelo CBMDF, em Brasília.
O estudo foi conduzido pelos Tenentes-médicos Rodolfo Vagner Xaubet e Pietra Zorzo, ambos do CBMMS, e traz dados inéditos sobre a exposição ao CO durante o combate a incêndios florestais — realidade cada vez mais frequente no Brasil. A pesquisa analisou 12 bombeiros-alunos durante atividades práticas do curso de combate a incêndios, com medições feitas antes e depois dos turnos de trabalho, por meio de um oxímetro portátil de alta precisão.
Exposição invisível e
riscos reais
O monóxido de carbono é um gás inodoro, altamente tóxico e considerado a principal causa de mortes por intoxicação inalatória no mundo. A pesquisa revelou que todos os militares avaliados apresentaram níveis detectáveis de carboxiemoglobinemia — substância que resulta da ligação entre o CO e a hemoglobina — variando de 2% a 12%. A intoxicação, segundo os pesquisadores, tende a se acumular ao longo dos turnos operacionais. “A partir de 12%, já existem relatos de lesões cardíacas em outros estudos. E mesmo valores considerados baixos já indicam que o organismo está em situação de estresse”, explica o Tenente Rodolfo Xaubet.
Ele acrescenta que a exposição silenciosa ao gás pode gerar consequências fisiológicas graves. “O corpo tenta compensar a falta de oxigênio aumentando a frequência cardíaca e respiratória, mas isso, por si só, aumenta a ventilação e, com ela, a absorção do próprio monóxido de carbono.” Esse ciclo fisiológico, conforme destacado pelos autores, pode levar a um desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio pelos tecidos, especialmente o coração. Frequências cardíacas acima de 150 bpm podem reduzir o tempo de enchimento das artérias coronárias, elevando o risco de arritmias e até de eventos cardiovasculares agudos.
Monitoramento e
prevenção
Um dos principais méritos do estudo é propor uma
alternativa não invasiva e de baixo custo para
monitoramento em tempo real da intoxicação, utilizando tecnologias já
disponíveis. O uso do oxímetro Rad-57® permitiu aferições rápidas e com margem
de erro mínima em relação à gasometria arterial, considerada padrão-ouro em
ambiente hospitalar.
A Tenente Pietra Zorzo, coautora da pesquisa, reforçou durante o evento a necessidade de disseminar essas práticas em outras corporações, destacando que a URSA já vem sendo procurada por outros estados interessados em replicar o modelo. Ela também salientou que, com a valorização da saúde ocupacional do bombeiro, a corporação eleva seus padrões de atuação em campo e protege seu maior ativo: o efetivo humano. Segundo ela, os resultados da pesquisa reforçam a importância de protocolos mais rígidos de rodízio, descanso e uso de equipamentos de proteção respiratória durante o combate a incêndios. “Hoje somos referência nacional, porque outras corporações vêm até nós pedindo informações sobre o serviço, sobre como foi criado, sobre todo o funcionamento”, afirmou.
Implicações práticas
Os dados evidenciam a necessidade de:
- Monitoramento sistemático e não
invasivo da intoxicação por CO durante os turnos
operacionais.
- Revisão de protocolos de
descanso e rodízio de efetivo, especialmente em
ambientes com alta carga de fumaça.
- Sensibilização fisiológica dos
profissionais para compreender os sinais
precoces da intoxicação e os riscos cardiológicos associados.
Avanço científico e
valorização da tropa
Além de seu ineditismo, o estudo contribui de forma
relevante para a literatura da medicina de emergência e saúde
ocupacional militar, ao abordar um risco pouco estudado no
Brasil. A exposição progressiva ao CO não é percebida de forma imediata, mas
pode comprometer o desempenho do militar, afetar sua saúde a longo prazo e, em
casos extremos, levar à morte súbita — como já registrado em episódios recentes
no país.
A expectativa dos pesquisadores é que os dados possam
subsidiar novas diretrizes operacionais e campanhas internas de
conscientização. “Estamos apenas começando. Nosso objetivo é ampliar esse
estudo com mais participantes e em diferentes cenários operacionais, para que o
Corpo de Bombeiros possa tomar decisões baseadas em evidência científica”, afirmou
Xaubet.
Reconhecimento e futuro
A apresentação da pesquisa no SNPCIF, evento que reuniu
especialistas de todo o país, marcou não apenas o reconhecimento do trabalho
desenvolvido no Mato Grosso do Sul, mas também a consolidação de um modelo que
alia ciência aplicada à realidade operacional do Corpo de Bombeiros Militar. O
estudo é parte do mestrado na linha de Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
tendo como orientadores Doutor Eduardo de Castro Ferreira e Doutora Silvia
Cristina Heredia Vieira da Universidade ANHANGUERA UNIDER e evidencia o papel
estratégico da Diretoria de Saúde do CBMMS na produção de conhecimento técnico
voltado à segurança e saúde dos militares.
Para o Coronel Cezar, Diretor
da Diretoria de Saúde, o trabalho simboliza um novo patamar para a corporação.
“Mais do que um avanço técnico-científico, essa pesquisa demonstra nosso
compromisso permanente com a proteção da tropa, o aperfeiçoamento dos
protocolos de resposta e a construção de soluções baseadas em evidência para os
desafios do serviço operacional”, afirmou.
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